O grande arrependimento de Paulo Ricardo é não ter conseguido dar ao RPM uma carreira longeva.

Se eu pudesse reeditar a história do RPM, passaria pelo menos uma semana enfurnado numa ilha de edição. 


Há quasi 40 anos, Paulo Ricardo Medeiros voltava de uma temporada em Londres cheio de idéias e ambições. Mas, nem em seu sonho mais delirante, poderia imaginar que a banda que formaria imediatamente a seguir com o ex-companheiro de audições de rock progressivo Luiz Schiavon se tornaria, em pouco tempo, o maior fenômeno pop rock do Brasil. 

A meteórica ascensão e queda do RPM aparece  na luxuosa caixa "Revolução! RPM 25 Anos". Ela traz os três discos lançados pelo grupo nos anos 80: "Revoluções por Minuto" (500 mil cópias vendidas, de 1985), "Rádio Pirata Ao Vivo" (2,5 milhões de cópias, de 1986) e "RPM", mais conhecido como "Quatro Coiotes" (200 mil, de 1988). 

Há também um CD com remixes e faixas lançadas em singles (como as parcerias com Milton Nascimento e uma cover de "Gita", de Raul Seixas, já dos anos 90) e um DVD com o conteúdo do VHS "Rádio Pirata", mais um "Globo Repórter" sobre o quarteto, performances no programa "Mixto Quente", um playbackão no "Cassino do Chacrinha" e uma entrevista feita perto do ocaso. 

De longe, o DVD é o item mais curioso do pacote, pois a história do sucesso de Paulo Ricardo, Luiz Schiavon, Fernando Deluqui e P.A. Pagni é muito mais interessante do que as músicas que eles registraram. 

No "Globo Repórter", um esbelto e compenetrado Pedro Bial acompanha o grupo em turnê no auge da fama. Conversa com fãs, vai surfar com Deluqui e tenta decifrar o que motivava tamanha histeria. 

Analisando hoje tudo o que aconteceu, Paulo Ricardo mostra ainda não ter muitas certezas. "Do alto da maturidade que adquiri ao longo desses anos, posso dizer que não entendo porra nenhuma. 

Esse negócio de RPM é muito complicado." Mas ele sabe que alguns fatores possibilitaram o turbilhão. "O Brasil estava mudando muito. A minha geração tinha vários problemas por ter crescido sob a ditadura militar. E tanto eu quanto o Herbert [Vianna] e o Lulu [Santos] éramos filhos de gente ligada ao regime. Por um capricho histórico, a anistia explodiu junto com o punk, que recuperava o espírito original do rock e era uma linguagem muito adequada para o que queríamos dizer", teoriza.


Arrependimento


Na época, o vocalista e baixista era influenciado por The Police, Duran Duran, Joy Division e Bauhaus. Hoje, cita Radiohead e Coldplay como bandas favoritas, além de Amy Winehouse. E revela que teve seus momentos The Killers e The Strokes. "Strokes é muito "Louras Geladas, muito "Rádio Pirata'", afirma ele. O grande arrependimento de Paulo Ricardo é não ter conseguido dar ao RPM uma carreira longeva. "Quer dizer, essa é a mãe de todos os arrependimentos. Se eu pudesse reeditar a história do RPM, passaria pelo menos uma semana enfurnado numa ilha de edição. Mudaria até as cores dos meus paletós." 

JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA (2008)