Revoluções Por Minuto 1985

Revoluções Por Minuto

Ficha Técnica 
Título: Revoluções Por Minuto Artista: 
RPM Lanzamiento: Mayo de 1985 
Grabadora: Epic/Sony Producción: Luiz Carlos Maluly 
Músicas: “Rádio Pirata”, “Olhar 43”, “A Cruz e a Espada”, “Estação no Inferno”, “A Fúria do Sexo Frágil Contra o Dragão da Maldade”, “Louras Geladas”, “Liberdade/Guerra Fria”, “Sob a Luz do Sol”, “Juvenília”, “Pr’esse Vício”, “Revoluções Por Minuto”


Revoluções Por Minuto (1985)

Álbum de estréia do RPM é a equação certeira entre prog rock, new romantic, o dark e as pistas de dança.
Pense em um mundo sem internet, no qual as pessoas se correspondem por cartas enviadas pelo correio. Textos são escritos à mão ou nas pesadas estruturas de ferro de máquinas tipográficas. Videocassetes são trambolhos caríssimos que começam a trocar o inviável sistema de beta para o industrial VHS. Álbuns são bolachas pretas de vinil com imensas capas de papelão. Novas bandas são descobertas através de toscas gravações de gravações em cassete. E há uma dificuldade enoooorme de importação de discos.
Ficção? Não, pura realidade. Em 1985, nem vinte anos atrás. O abismo que separa a tecnologia desse ano para o atual também é gigante no que se refere às configurações político-econômicas do planeta. Saddam Hussein e o Iraque eram um forte aliado dos Estados Unidos, que, por sua vez, ainda estavam preocupados em armar-se para duelos de blefe e imaginação com a União Soviética – as prioridades eram a disputa nos esportes olímpicos, a corrida espacial e botões vermelhos prontos para ativar mísseis com capcidade para destruir todo oterritório inimigo. Já a antiga união de países centrada no Kremlin era o centro de comando do leste europeu, separado do Ocidente por um extenso muro e baseado na mão-de-ferro do regime comunista. A China era uma vasta terra de incógnitas que tentava se adaptar às “novidades” vindas deste lado do mundo, enquanto o Japão reservava sua seminal cultura de mangás e animes aos olhos puxados da própria terra do sol nascente.
E o Brasil... Bem, aqui não tinha eleições diretas para presidente e a gente experimentava o gosto do primeiro governo não-militar desde o golpe de 1964. Roqueiro brasileiro se libertava da máscara de bandido imposta à revelia desde os tempos da ascensão intelectual da esquerda que falava de flores e condenava em passeata a guitarra elétrica como símbolo da rendição da arte da colônia à exploração dos mestres supremos do capitalismo.
Neste cenário – aparentemente pré-histórico para quem, nos dias atuais, ainda não saiu (ou acaba de sair) da adolescência – a toda-poderosa gravadora CBS decide apostar em uma leva de novas bandas. A febre das danceterias nos grandes centros está à toda e no mês de janeiro o sucesso da empreitada do Rock In Rio revela que todos os jovens queriam rock. Até a Globo se rende ao rock, com uma leva de programas (Mixto Quente, Armação Ilimitada, Clip Clip). As rivais Warner (Kid Abelha, Barão Vermelho, Lulu
Santos, Ira!, Ultraje A Rigor, Titãs, Magazine), RCA (Gang 90, Lobão – com e sem os Ronaldos) e EMI (Blitz, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana) já saíram na frente na disputa pelo segmento. Enquanto isso, o máximo que a Sony contabiliza é uma carreira solo de sucesso (o tecnopop “Menina Veneno” de Ritchie) e outra promissora (Léo Jaime, que, desgarrado do João Penca e Seus Miquinhos Amestrados, atualizava o pop da Jovem Guarda para os tempos de new wave). E só.
Uma nova leva bandas sai dos palcos das casas noturnas de estética néon e chão quadriculado em preto e branco para assinar contrato com a gravadora. Vários compactos 7” chegam às lojas – seus lados A estão reunidos na coletânea Rock Wave – pau-de-sebo de nome vagabundo, capa estlizada (um casal desenhado sob códigos e cores da moda) e algumas promessas. Nomes como Telex (“Só Delírio”) e Capital Inicial (“Descendo o Rio Nilo”) ficaram só nas promessas do primeiro hit – o Capital logo se mudaria para a Polygram e, então sim, faria decolar sua carreira. Outras formações, no entanto,
entraram para o limbo como nomes que a história fez questão de esquecer – caso do impagável “Omar e os Cianos”(?!) e seus versos “Abominável homem das neves/ Quero quebrar este gelo/ Vou esperar que você se entregue”.
Há, porém, dois acertos. Um chama-se Metrô. Formado entre jovens colegas de ascendência francesa, o grupo logo chama a atenção por arranjos modernos (leia-se batidas dançantes e recheadas de sintetzadores), melodias certeiras e letras ingênuas cantadas guiadas pelo doce sotaque da bela Virginie. “Beat Acelerado”, “Sândalo de Dândi” e “Tudo Pode Mudar” garantem boas execuções radiofônicas e o sucesso do álbum de estréia da banda que antes chamava-se A Gota Suspensa e se dedicava às sonoridades progressivas.
Outro tiro certo – e que também trocara o progressivo pela new wave – é o RPM. A origem remonta a um projeto criado pelo tecladista Luiz Schiavon e o baixista Paulo Ricardo, chamado Aura. Depois de três anos de ensaios apurados e nenhum show no currículo, Luiz encantou-se pela música eletrônica e pela tecnologia dos novos sintetizadores, enquanto Paulo decidiu morar na Europa – primeiro na França e depois em Londres, de onde escrevia sobre novidades musicais para a revista Somtrês e se correspondia com freqüência com o amigo das teclas. Este choque de personalidades impulsionou a criação do RPM depois que o trabalho da dupla foi retomado em São Paulo – como bem observou o jornalista Ricardo Alexandre em seu livro Dias de Luta, era um “formato Eurythmics, somando prog rock, new romantic, o dark e as pistas de dança. Completavam a formação o guitarrista Fernando Deluqui (que tocava com a ex-Gang 90 May East), o baterista Charles Gavin (recém-saído do Ira!).
“Louras Geladas” foi a música escolhida para o compacto – já gravado sem Gavin, que largara o trio para ir ao encontro do ecletismo dos Titãs. A música já era um hit das danceterias e logo tomou de assalto as paradas de sucesso das rádios. A letra, um delicioso paralelismo entre dor-de-cotovelo e aquele porre-bola-para-frente (“Na madrugada, na mesa do bar/ Louras geladas vêm me consolar”), cai no gosto do público de todo o país e leva a banda a gravar rapidamente seu álbum de estréia, já com seu futuro definitivo baterista Paulo P.A. Pagni (ex-Patife Band), que, curiosamente, não aparece efetivado como membro nas fotos de capa e contracapa.
No mês de maio chega às lojas Revoluções Por Minuto, no vácuo de um país ainda perplexo com a morte de Tancredo Neves (o primeiro presidente não-militar em duas décadas, mas que não chegara a assumir o posto – fora internado na véspera da transmissão das faixas por causa de uma diverticulite). Há uma segunda faixa de trabalho, “Olhar 43”. A composição é totalmente fora dos padrões pop: não há refrão, os versos são complicados (como “É perigoso o seu sorriso/ É um sorriso assim jocoso, impreciso/ Diria misterioso, indecifrável riso de mulher/ Não sei se é caça ou caçadora/ Se é Diana ou Afrodite ou se é Brigitte/ Stephanie de Mônaco, aqui estou, inteiro ao seu dispor”) e a batida deixa de lado a malemolência da new wave para encarar um tecnopop mais acelerado, duro e reto. Mesmo assim, o misto de paixão platônica e pretensa declaração de amor de “Olhar 43” também emplaca nas rádios e abre caminho para que outras faixas, mais politizadas e/ou conceituais, façam o mesmo.
O que chama a atenção em Revoluções Por Minuto é a capacidade do RPM de falar a sério em um terreno onde impera a diversão. As letras – assinadas por Paulo Ricardo – não levam para as pistas de dança apenas excitação sexual e amores frustrados. Tratam também de temas como política internacional e transformações sócio-econômicas. Outro elemento estranho são os climas soturnos dos arranjos de Luiz Schiavon – herança dos tempos londrinos do baixista, que viu in loco o pós-punk britânico.
Lado A, lado B
“Rádio Pirata” abre o álbum escancarando a carta de intenções da banda e, ao mesmo tempo, trazendo tudo aquilo que uma canção pop perfeita deve ter. A letra é o grande hino da geração do rock brasileiro dos anos 80, que anuncia a invasão do mercado e a estabilização de um novo segmento fonográfico, outrora considerado fora-da-lei (“Abordar navios mercantes/ Invadir, pilhar, tomar o que é nosso/ Pirataria nas ondas do rádio/ Havia alguma coisa errada com o rei/ Preparar a nossa invasão/ Fazer justiça com as próprias mãos/ Dinamitar um paiol de bobagens/ E navegar o mar da tranqüilidade/ Toquem o meu coração/ Façam a revolução/ Que está no ar, nas ondas do rádio/ No submundo repousa o repúdio/ E deve despertar/ Disputar em cada freqüência/ Um espaço nosso nessa decadência/ Canções de guerra, quem sabe canções do mar/ Canções de amor ao que vai vingar”). Os versos por um lugar ao sol, realçados por uma irresistível batida disco no refrão, retrata com perfeição o organograma da banda: Schiavon, que assina dez das onze composições com o parceiro Paulo Ricardo, é quem traça as bases e comanda os riffs nos
sintetizadores. Deluqui se encaixa apenas em pequenas brechas harmônicas (como no tosco riff que abre e encerra a música) ou em fraseados, solos e intervenções que não embolam o meio-de-campo dos arranjos feitos por Luiz.
E “Rádio Pirata” é só a abertura de um lado A milimetricamente calculado para fazer o disco dar certo. Afinal, a primeira metade do disco traz o hino da banda, os dois primeiros compactos de sucesso (“Louras Geladas”, “Olhar 43”) e outros dois hits em potencial que depois também vieram a tocar nas rádios. “A Cruz e A Espada” é balada new romantic sem qualquer vergonha de sua condição. Mistura batidinha bossa nova, percussão leve, harmonia ao violão e solos de clarineta, em alternâncias entre estrofes e refrão que repetem o esquema de calmarias e crescendos. Já “Estação no Inferno” é tecno quanto pop – tem até refrãozinho reggae, com direito a congas e versos fuleiros como “Outro inverno gela em meu coração/ Neste inferno é sempre a mesma estação”. Previsível e fuleira como estagnada MPB radiofônica que imperava no país no final dos anos 70/começo dos 80, é a faixa destoante da qualidade de todo o resto do álbum.
Completa o lado A, a punkérrima “A Fúria do Sexo Frágil Contra o Dragão da Maldade”, mais uma letra em que Paulo Ricardo exala sexo por todos os lados:“Uma menina enlouquecida/ Pela cidade, a sina e a buzina/ Vontade férrea, feminina fúria/ Determinada, perigo, prazer/ (...) Rímel nos olhos, batom que mancha/ Fuma, se perfuma e o penteado não desmancha/ Quem sabe é mãe, mãe de família/ Quem sabe até é sua própria filha”. Além da velocidade ao extremo, a faixa traz ainda o trecho mais pesado do disco, composto por uma massacrante batida industrial em loop.
Se as primeiras fichas do RPM apostam em uma cara mais pop, no lado B o grupo reserva uma surpresa aos fãs de última hora. Canções sombrias, lentas, de maior duração. Os sintetizadores de Schiavon costuram texturas mais densas e pesadas, enquanto Paulo Ricardo se esmera em cantar versos mais engajados, cheios de referência às conjunturas sócio-políticas do Brasil e do mundo da época. Sai o new romantic da etapa inicial e o tecnopop agora divide espaço com uma grande herança do pós-punk britânico (Bauhaus,
Siouxsie & The Banshees, PiL).
Uma longa introdução de mais de um minuto e alternância de ritmos marcam o b-side inicial “Liberdade/Guerra Fria”. Já no título, Paulo brinca com o jogo de nervos entre Estados Unidos e União Soviética que por algumas décadas deixou o mundo esperando a possibilidade de uma guerra. Se o duelo imaginário entre as duas superpotências nunca chegou a existir, outro conflito citado na letra permanece explosivo e sanguinário até hoje, longe de qualquer solução (“Eu já nem sei mais quem sou/ Desse jeito não se vive/
Nova York ou Moscou/ Palestina ou Tel-Aviv”).
“Juvenília”, por sua vez, puxa o foco para a bandeira verde-e-amarela. Em um arranjo quase sem guitarra (Deluqui, que “aparece” apenas em um solo na gravação original, ganharia mais espaço ao violão na regravação feita para o álbum Ao Vivo MTV, em 2002) e baseado em teclados superpesados, a canção é uma grande crítica aos tempos de terror e mentiras impostas pela recém-enterrada ditadura militar. Seguindo um esquema convencional de estrofe e refrão – sem, contudo, repetir um único verso –, Paulo Ricardo fala de exílio, sofrimento e traição (“Sinto um imenso vazio/ E o Brasil/
Que herda o costume servil/ Não serviu pra mim/ Juventude/ Aventura e medo/
Desde cedo/ Encerrada em grades de aço/ E um pedaço do meu coração é teu/ Destroçado com as mãos/ Pelas mãos de Deus/ E as imagens. Transmissões divinas/ E o cinismo/ E o prtestantismo europeu/ Parte o primeiro avião/ Eu não vou voltar/ E quem vem pra ficar/ Pra cuidar de ti/ Terra linda/ Sofre ainda a vinda/ De piratas/ Mercenários sem diração/ E eu até sei quem são/ Sim, eu sei/ Você sempre faz confusão/ Diz que não e vem/ Vem chorando/ Vem pedir desculpas/ Vem sangrando/ Dividir a culpa entre nós”) e faz da canção um dos grandes hinos do rock nacinal dos anos 80.
“Pr’esse Vício” é dark até a medula. O riff de baixo – com efeit exagerado de flanger – remete diretamente aos tempos mais soturnos de Siouxsie & The Banshees e volta a falar sobre conflitos religiosos (“Não tem mais tempo/ Não tem mais ninguém/ Rezando nos templos/ Em Jerusalém/ (...) Não tem mais tempo/ Não vem mais ninguém/ Explodem os templos/ Vão dizendo amém”). Os ares sombrios permanecem em “Sob A Luz do Sul”, mesmo com a batida levemente funkeada. Na letra, o baixista faz uma ode ao “sangue de coruja”: “Quero das horas escuras/ Cumplicidade em qualquer loucura/ (...) Já não sou mais quase nada/ Sob a luz do sol”.
Para completar o álbum, o encerramento vem com a regravação de “Revoluções Por Minuto”, b-side do compacto de “Louras Geladas”. Sobre um interminável loop progressivo criado no computador (que sugere vinheta de telejornais), a letra antecipa aquilo que a gente viria a conhecer posteriormente sob códigos como globalização, internet e CNN. “Sinais de vida no país vizinho/ Eu já não ando mais sozinho/ Toca o telefone/ Chega um telegrama, enfim/ (...) Nos chegam gritos da Ilha do Norte/ Ensaios pra Dança da Morte/ Tem disco pirata/ Tem videocassete até/ Agora a China bebe Coca-Cola/ Aqui na esquina cheiram cola/ Biodegradante/ Aromatizante tem”. O arranjo ainda conta com barulhos de transmissões de telex e notícias perdidas no dial da rádio, para terminar com barulho de arrastar de correntes e uma melancólica batida tribal. Passaríamos a ser todos escravos? O futuro sombrio projetado por George Orwell no clássico 1984 estaria prestes a se tornar realidade?





Letras:

RÁDIO PIRATA

(Luiz Schiavon / Paulo Ricardo)

Abordar navios mercantes
Invadir, pilhar, tomar o que é nosso
Pirataria nas ondas do rádio
Havia alguma coisa errada com o rei
Preparar a nossa invasão
E fazer justiça com as próprias mãos
Dinamitar um paiol de bobagens e navegar o mar da tranquilidade
Toquem o meu coração, façam a revolução
Está no ar nas ondas do rádio
No submundo repousa o repúdio
E deve despertar
Disputar em cada frequência
Um espaço nosso nessa decadência
Canções de guerra, quem sabe canções do mar
Canções de amor ao que vai vingar
Toquem o meu coração, façam a revolução
Está no ar nas ondas do rádio
No underground repousa o repúdio e deve despertar oh


OLHAR 43

(Paulo Ricardo / Luiz Schiavon)

Seu corpo é fruto proibido, é a chave de todo o pecado e dá libido
E prum garoto introvertido, como eu, é a pura perdição
É um lago negro, o seu olhar, é água turva de beber, se envenenar
Nas suas curvas derrapar, sair da estrada, morrer no mar (no mar)
É perigoso o seu sorriso, é um sorriso assim jocoso, impreciso
Diria misterioso, indecifrável, riso de mulher
Não sei se é caça ou caçadora, se é Diana ou Afrodite, ou se é Brigite
Stephanie de Mônaco aqui estou inteiro ao seu dispor (princesa)
Pobre de mim, invento rimas assim prá você
E um outro vem em cima e você nem prá me escutar
Pois acabou não vou rimar porra nenhuma, agora vai, como sair
Que eu já não quero nem saber se vai caber, ou vão me censurar (será?)
E prá você eu deixo apenas, o meu olhar 43, aquele assim
Meio de lado, já saindo, indo embora, louco por vocês (gracinhas)
Que desperdício!
Tesão!

A CRUZ E A ESPADA

(Paulo Ricardo / Luiz Schiavon)

Havia um tempo em que eu vivia
Um sentimento quase infantil
Havia o medo e a timidez
Todo um lado que você nunca viu
E agora eu vejo aquele beijo
Era mesmo o fim
Era o começo
E o meu desejo
Se perdeu de mim
E agora ando correndo tanto
Procurando aquele novo lugar
Aquela festa, o que me resta
Encontrar alguém legal prá ficar
E agora eu vejo aquele beijo
Era mesmo o fim
Era o começo
E o meu desejo
Se perdeu de mim
E agora é tarde, acordo tarde
Do meu lado alguém que eu não conhecia
Outra criança adulterada
Pelos anos que a pintura escondia
E agora eu vejo aquele beijo
Era mesmo o fim
Era o começo
E o meu desejo
Se perdeu de mim
E nunca mais, nunca mais


Estação no Inferno ****

(Paulo Ricardo/Luiz Schiavon)

Luz de velas nos castiçais
iluminam tempos atrás
O passado é uma ilusão
Seu retrato acusação
Outro inverno gela em meu coração
Neste inferno é sempre a mesma estação
Outro inverno gela em meu coração
Neste inferno é sempre a mesma estação
Vento frio vem me chamar
Me arrepio só de pensar
Num futuro escuro e só
Inseguro voltando ao pó
No silêncio escuto a voz
São demônios ou somos nós
Sem juízo , sem salvação
Exorcizo sua aparição


A Fúria do Sexo Frágil Contra o Dragão da Maldade **

(Paulo Ricardo/Luiz Schiavon)

Ela vai a luta de corpo inteiro
Ela faz de tudo , ela faz ligeiro
E as coisas que precisa , tudo o que quer Se materializa uma mulher
Uma menina enlouquecida
Pela cidade a sina e a buzina
Vontade férrea , feminina fúria
Determinada , perigo prazer
Ela não se assusta nem mesmo pisca
Sabe o quanto custa servir de isca
Anda pelas ruas de madrugada
Tem as pernas sujas , as mão geladas
Rímel nos olhos , batom que mancha
Fuma ,se perfuma e o penteado não desmancha
Quem sabe é mãe , mãe de família
Quem sabe até é sua propria filha

LOURAS GELADAS

(Paulo Ricardo / Luiz Schiavon)

Disfarça e faz que nem viu
Não me ouviu te chamar
Desfaz-se assim de mim
Que nem se faz com qualquer um
Agora eu sei, passei por cada papel
E rastejei, tentando entrar no seu céu
Agora eu sei sei sei passei por cada papel
Me embriaguei
E acordei num bordel
Já sei que um é pouco
Dois é bom e três é demais
E eu fico louco de ciúmes de um outro rapaz
Na madrugada
Na mesa do bar
Louras geladas
Vem me consolar
Qualqer mulher é sempre assim
Vocês são todas iguais
Nos enlouquecem então se esquecem
Já não querem mais

LIBERDADE/GUERRA FRIA

(Paulo Ricardo / Luiz Schiavon)

Seu olhar oriental
Provocante
Mero flerte acidental
Que eu não sei prá one vai
Tudo por você, guerras prá depois
Eu mudo por você, o mundo prá nós dois
Por qualquer ideologia
Sem qualquer convicção
Metralhou o amor que havia
Guerrilheiro coração
Eu já nem sei mais quem sou
Desse jeito não se vive
Nova Iorque ou Moscou
Palestina ou Tel Aviv
Guerra Fria nunca mais
Nova era glacial
E de que me serve a paz
Se em meu sangue corre o mal


SOB A LUZ DO SOL

(Luiz Schiavon / Paulo Ricardo / Fernando Deluqui)

Quero das horas escuras
Cumplicidade em qualquer loucura
Quero as noites em claro
A eletricidade, um luar de mil watts
Já não morro mais de medo
Que o tempo escorra pelos dedos
Já não sinto quase nada
Na madrugada fria
Quero a sujeira nas ruas
Nas veias de asfalto quero me injetar
Quero o perigo correndo comigo
Sem nunca poder me alcançar
Já não morro mais de medo
Que o tempo escorra pelos dedos
Já não sei de quase nada
Sob a luz do sol
Quero a cidade vazia
O clarão do dia me ofusca a visão
Minha cabeça lateja
Meu corpo cansado se espalha no chão

JUVENÍLIA

(Paulo Ricardo / Luiz Schiavon)

Sinto um imenso vazio e o Brasil
Que herda o costume servil
Não serviu pra mim
Juventude, aventura e medo
Desde cedo, encerrado em grades de aço
E um pedaço do meu coração é teu
Destroçado com as mãos
Pelas mãos de Deus
E as imagens, transmissões divinas
E o cinismo, e o protestantismo europeu
Parte o primeiro avião
E eu não vou voltar
E quem vem pra ficar
Pra cuidar de ti
Terra linda
Sofra ainda a vinda
De piratas
Mercenários sem direção
E eu até sei quem são
Sim eu sei
Você sempre faz confusão
Diz que não, e vem
Vem chorando
Vem pedir desculpas
Vem sangrando
Dividir a culpa entre nós


Pr'esse Vício ****

(Paulo Ricardo / Luiz Schiavon)

Nem mais um cigarro invade meus pulmões
Bombas de fumaça explodem nos salões
Nem mais uma taça rasa de cristal
Querosene e álcool explodem no local
Não tem mais tempo
Não tem mais ninguém
Rezando nos templos em Jerusalém
Nem mais uma linha ,
A alma sozinha
Livida e divide-se em partes desiguais
Nem mais um remédio
Já não tem remédio
O tédio que se instala na sala de estar
Não tem mais tempo
Não tem mais ninguém
Explodem os templos
Vão dizer amén

REVOLUÇÕES POR MINUTO

(Paulo Ricardo / Luiz Schiavon)

Sinais de vida no país vizinho
Eu já não ando mais sozinho
Toca o telefone chega um telegrama enfim
Ouvimos qualquer coisa de Brasília
Rumores falam em guerrilha
Foto no jornal, cadeia nacional
Viola o canto ingênuo do caboclo
Caiu o santo do pau oco
Foge pro riacho, foge que eu te acho sim
Fulano se atirou da ponte aérea
Não agüentou fila de espera
Apertar os cintos, preparar pra descolar
Nos chegam gritos da ilha do Norte
Ensaios pra dança da morte
Tem disco pirata, tem video cassete até
Agora a China bebe coca-cola
Aqui na esquina cheiram cola
Biodegradante, aromatizante, tem