Paulo Ricardo "Foi muita burrice o RPM ter parado”

Schiavon "Eu vou ser bem sincero, eu acho que esse boom tecnológico todo abriu a porteira para um monte de lixo também"

Famoso na década de 80 por clássicos como Loiras Geladas, Olhar 43 e Rádio Pirata, o grupo formado por Paulo Ricardo (voz e baixo), Luiz Schiavon (teclados), Fernando Deluqui (guitarra) e P.A. (bateria) esta em Turne pelo Brasil com sua seu álbum Elektra, lançado em novembro de 2011.

Paulo Ricardo, rasgando seda para o parceiro de composições Luiz Schiavon. “É lindo e inexplicável o que tenho com ele. Escrevemos umas 4 ou 5 letras na mesma noite. Foi uma burrice a gente ter parado”, lamentou o vocalista.

O RPM já passou por cinco reuniões anteriormente – em 1987, 1991, 2001, 2008 e 2011 – mais na ultima  o grupo retorna com material novo, após 23 anos sem lançar músicas inéditas com a formação clássica. O grupo começou a ensaiar uma volta definitiva em 2002 quando gravou CD e DVD ao vivo pela MTV, mas logo se separaram novamente. De acordo com o vocalista, o requisito principal para esta nova volta era um trabalho ímpar.

“A escolha do repertório partiu do zero. A prioridade era realizar um trabalho com músicas novas. Para isso, começamos o processo de composição em dezembro de 2010″, explicou Schiavon. Em seguida, o grupo iniciou uma turnê em maio de 2011, no Credicard Hall, em São Paulo, esse é um disco um pouco mais dançante, com forte presença de elementos eletrônicos. Parte dessa nova fase também se reflete no álbum contar com um CD extra, contendo 7 remixes.
Schiavon: “Não estamos numa seara nova, estamos explorando com mais recursos coisas que já tínhamos, usando elementos eletrônicos com outras tecnologias”


Paulo Ricardo: os remixes são “mais voltados para as pistas de dança e rádio”.

Em entrevista ao Virgula Música, o grupo contou mais detalhes sobre a nova fase.

O RPM já parou e voltou algumas vezes. O que vocês acham que está diferente neste novo retorno

Luiz Schiavon Hoje subimos no palco para nos divertir

Schiavon – O relacionamento pessoal, o respeito recíproco, a tolerância, a alegria de tocar junto, o amadurecimento, a evolução pessoal. Não só do plano espiritual, mas também como músicos. Isso tudo dá uma segurança, pegamos a estrada de maneira alegre. Hoje subimos no palco para nos divertir. E isso contagia o público. E não é porque estamos no começo da turnê, porque já fizemos uns sessenta shows…

E já chegou em um nível que vocês não se sentiam mais animados em fazer isso? Quando foi o ápice disso?

Deluqui – Quando demos as paradas anteriores. Em alguns momentos os interesses já não eram os mesmos, e isso é o que geralmente acontece com as bandas e os casamentos. Os casamentos acabam porque as pessoas já não têm os mesmos objetivos. Quando isso aconteceu com a gente, também paramos. Isso aconteceu com os Beatles, os Stones, várias bandas.

Schiavon – Pois é isso, das últimas vezes fomos até onde deu e paramos. Tivemos várias razões, mas no geral era sempre ligado à conceituação musical: o que fazer, para onde ir, como tocar a banda para a frente. Talvez tenhamos parado por não ter uma pessoa que nos indicasse o valor que temos juntos, de como é difícil tocar e fazer sucesso como fizemos um dia. Hoje vemos que paramos com a banda por bobagem, coisa que não faríamos hoje em dia.

Paulo Ricardo - É engraçado, porque antes eu estava passando por um período sem compor, cerca de uns dois anos sem escrever nada. Daí de repente quando nos juntamos, surgiram umas 4 ou 5 letras em uma só noite. Tocar e compor com o RPM é um privilégio, foi muita burrice nossa ter parado com tudo isso por tanto tempo.


Paulo Ricardo"quando nos juntamos, surgiram umas 4 ou 5 letras em uma só noite"

O novo disco tem características bem fortes de toques eletrônicos. Como surgiu esse direcionamento?

Paulo Ricardo – Não é exatamente algo que nunca fizemos antes. Surgimos em uma época na qual o eletrônico começou a tomar conta da cena, com grupos como Kraftwerk e New Order. Além disso, fomos pioneiros no remix no Brasil, com uma versão paraLoiras Geladas. 

Schiavon – Não estamos numa seara nova, estamos explorando com mais recursos coisas que já tínhamos, usando elementos eletrônicos com outras tecnologias. Acho que temos influências muito semelhantes em relação ao que está rolando por aí hoje. O DJ atualmente é um artista que cumpre o seu papel como atração principal. O David Guetta, por exemplo, é um show completo, o cara é um rockstar. Neste trabalho misturamos a facilidade dançante do eletrônico sem descaracterizar o som da banda.

Paulo Ricardo – Isso, os remixes são mais voltados para as pistas de dança e rádio. Mas o nosso rock característico ainda está ali.

 Vocês já comentaram várias vezes que tiveram grande influência de rock progressivo no início. Mas quais são as influências de agora?

Deluqui – Hoje temos bem menos a coisa do progressivo. Eu praticamente não tenho escutado música de outros artistas. Pra você ter uma ideia, no meu Ipod eu tenho umas 600 músicas, e acho isso muito pouco, sou muito seletivo. Eu prefiro o silêncio. Eu escuto o Muse, mas não sou um pesquisador de música. O que eu acho super bacana do RPM é que não copiamos as bandas de fora. Fazemos o que gostamos, nos reunimos, tocamos e sai legal.

Schiavon – Especificamente sobre o progressivo, tínhamos mais influência no início da carreira. Nos distanciamos disso ao longo do tempo e hoje temos muito claro que música está muito ligada a celebração. Não é aquela coisa contemplativa como era na década de 70, como era no auge do progressivo. Nosso show é uma festa, o pessoal dança e pula. Mas isso não impede que a música tenha conteúdo; pode ser uma música boa de dançar, ter um bom arranjo, uma boa letra, ser bem construída e bem tocada. Acho que estamos bem para esse lado e assimilamos um pouco de motown, de dance, música eletrônica atual. Acho que estamos mais influenciados por isso.

O que vocês acham que vale a pena na música nacional agora?

Schiavon – Eu vou ser bem sincero: eu acho que esse boom tecnológico todo abriu a porteira para um monte de lixo também. Mas o mercado se auto-ajusta. De repente você vê uma surpresa como o da Maria Gadu, que é difícil, complexo, não tem nada a ver com sertanejo. É extremamente bem-elaborado e um sucesso de público. Isso me indica essa visão, me dá a sensação de que temos muita bobagem, mas que quando aparece alguma coisa de qualidade, acaba se sobressaindo e tendo um destaque natural. Acho que isso também aconteceu com o Diogo Nogueira, que não é realmente novo, mas é um grande cantor. No meio dessa bagunça da ebulição da internet, o que é ruim esfria. Mas não podemos ser preconceituosos e considerar que só música de elite é boa. Dentro do universo sertanejo tem muita coisa de qualidade também. Sem falar da música e do gênero, mas acho o Luan Santana um tremendo performer. Já vi um show dele uns três anos atrás e ele tem um domínio de palco de gente experiente. E tudo isso de uma maneira bem instintiva: ele canta com absoluta perfeição, corre pelo palco inteiro e não se cansa. Não é porque não gostamos do gênero que vamos jogar pedras.

Falando em ‘jogar pedras’, a polêmica da vez é o Lobão versus Lollapalooza Brasil. Vocês já foram convidados pra tocar em um festival com atrações internacionais e passaram por essa situação de tocar em horários considerados desprivilegiados?

Schiavon – Esse caso do Lobão eu não tenho completa noção de como ocorreu. Mas nos grandes festivais lá da década de 60, como Ilha de Wright, Woodstock, teve gente que começou à tocar às 9 da manhã. O Jimi Hendrix tocou às 11h! Qual o problema? Tudo bem, o Lobão não quer tocar às 10 da manhã porque dorme tarde e não quer acordar cedo. Será que é isso mesmo? É difícil saber o real motivo. Talvez ele não tivesse concordado com a atração que tocaria depois dele, algo assim. Fazer um julgamento agora sobre isso seria uma coisa leviana. O Lobão é um cara inteligente pra cacete, é meu amigo, e imagino que ele tenha os motivos dele pra recusar. Mas acredito que aqui no Brasil o pessoal é muito preconceituoso com essa história da sequência das apresentações. Na época da morte do Freddie Mercury, em homenagem ao Queen, fizeram um show especial e o Rod Stewartentrou no palco às 15h. E quem foi tocar às 21h nem era tão conhecido. Acho que quem faz estes eventos está mais preocupado com a sequência de produtos, de eventos, do que se o artista merece tocar naquele horário ou não.

Com o RPM então não teria problema tocar no mesmo horário proposto ao Lobão, por exemplo?

Schiavon – Pelo horário não. Pelo contrato, talvez.

Deluqui – Nos adaptaríamos. Mas se houvesse condições injustas, também não daria.

Schiavon – Pra mim tá muito mais relacionado às condições do que pode ser feito do que pelo horário. Não vejo problema em tocar às 10h, eu costumo acordar às 7h (risos)!

Fonte: http://virgula.uol.com.br/