A Parceria Esquecida de 1986: Quando Ney Matogrosso Chamou o RPM Para Gravar Bugre”

A letra de Vertigem com o RPM, é mesmo sobre uma abordagem Homossexual.



Neste vídeo você vai descobrir: 
  • Como Ney Matogrosso foi decisivo para o fenômeno RPM 
  • A participação do RPM na criação e gravação de Bugre 
  • A história completa de “Vertigem” e “Povo do Ar” 
  • A influência de Ney na escolha de Marco Mazzola para produzir Rádio Pirata ao Vivo 
  • Como essa parceria redefiniu o som e a estética do rock brasileiro nos anos 80
Dessa colaboração nasceram duas faixas fundamentais do disco:
“Vertigem”, composta por Ney e pelo RPM, com a banda atuando nos arranjos e na gravação;
e “Povo do Ar”, uma regravação da música composta por Zé Rodrix e Luís Carlos Sá, reconstruída com a sonoridade moderna do RPM.

Assim começa uma história pouco contada: o encontro entre a radicalidade artística de Ney Matogrosso e a banda mais popular do Brasil naquele momento.


Segundo o jornal Correio Braziliense, Ney era “aguerrido no palco e arredio na vida”, e Bugre refletia exatamente essa personalidade. O jornal descreveu o álbum como imprevisível e ousado, além de ser apenas o terceiro disco brasileiro, onde a mixagem foi feita em sistema digital. Já o Jornal do Brasil destacou o impacto estético da obra, classificando o LP como “dark, tecnopop e futurista”, algo que contrastava com o que Ney vinha fazendo até então.


O álbum Bugre foi lançado pela Polygram em 1986, a mixagem foi feita em Los Angeles, Marco Mazzola foi o produtor do álbum, um dos mais respeitados produtores brasileiros.

Meses depois, Mazzola seria justamente o produtor musical do Rádio Pirata ao Vivo, o disco que se tornaria o maior sucesso da carreira do RPM.

A escolha do RPM, do novo produtor musical não foi coincidência — ela foi fortemente influenciada por Ney, que já trabalhava com Mazzola há muito tempo.

A parceria na composição de Vertigem, tentou dar maior visibilidade a esse trabalho, já que o RPM era a banda mais popular do país naquele momento.

Ney assinava duas composições, “Dívidas de Amor”, ao lado de Leoni, e “Vertigem”, em colaboração direta com o RPM.

Em entrevista da época se fala dessa parceria.

” Há dez anos, que escrevo e guardo, nunca tinha mostrado pra ninguém”. “Não escrevo necessariamente sobre amor e nunca escrevi pensando em música. Tenho um caderno com pensamentos , anotações sobre a vida e o Paulo Ricardo, pediu pra olhar e acabou musicando uns textos; o mesmo aconteceu na parceria com Leoni”.

“A letra de Vertigem com o RPM, é mesmo sobre uma abordagem Homossexual, escrevi uma coisa que veio da minha cabeca e toda a letra trata de envolvimento de dois homens, isto esta bem claro”. “Algumas pessoas já vieram dizer que fiz essa música porque teria transado com o Paulo Ricardo”. “Problema delas, as pessoas que precisam destas histórias. Não tenho segredos.

“Vertigem” é a primeira e mais profunda marca dessa parceria. De acordo com a discografia oficial de Ney Matogrosso, a música foi composta por Ney e pelos integrantes do RPM, que também participaram da gravação e dos arranjos. Luiz Schiavon, Paulo Ricardo, Paulo Pagni e Fernando Delúqui emprestaram ao álbum a estética eletrônica, moderna e urbana que caracterizava o som do RPM em 1986.

O Jornal do Brasil descreveu a faixa como uma combinação de contrastes, dizendo que ela “se equilibra entre o brega e o chique”, exatamente o tipo de provocação sonora que tanto Ney quanto o RPM buscavam naquele momento.

Se “Vertigem” representa a criação conjunta, “Povo do Ar” simboliza outro tipo de encontro.

A música é uma regravação de uma canção escrita por Zé Rodrix. e Luís Carlos Sá, nos anos 70. No entanto, em Bugre, ela ganhou uma nova vida. Os integrantes do RPM assumiram os arranjos e a execução instrumental, dando à faixa uma sonoridade moderna, atmosférica e alinhada ao clima futurista do álbum.

Dessa forma, as duas músicas revelam duas camadas do encontro entre Ney Matogrosso e o RPM. Em “Vertigem”, eles criam juntos uma música inédita, resultado direto da química artística entre o vocal teatral de Ney e a linguagem eletrônica e pop do RPM. Em “Povo do Ar”, a banda atua como força transformadora, conduzindo uma regravação para um território sonoro completamente novo.