“Não deixei o RPM de forma nenhuma.”, diz Paulo Ricardo

“Nosso rock é um dos melhores do mundo”, diz Paulo Ricardo.

André Molina
Ao comemorar quase 40 anos de carreira, Paulo Ricardo fez show em Curitiba, no Teatro Guaíra, para apresentar sucessos do RPM e de nomes importantes do rock brasileiro, como Legião Urbana, Cazuza, Raul Seixas, Rita Lee no novo show “Rock Popular”. 

Em entrevista à rádio Educativa, Paulo Ricardo contou histórias das suas quatro décadas de carreira e recordou parcerias com nomes como Renato Russo, Erasmo Carlos e a importância da Rita Lee na música brasileira. O show Rock Popular inclui canções de nomes consagrados do estilo e clássicos do RPM. 

Confira a entrevista:

O álbum "Rock Popular Brasileiro", de 1996, inspirou esta ideia? O show é uma maneira de lembrar este álbum?

O show “Rock Popular” é inspirado no álbum “Rock Popular Brasileiro”, que é uma visão minha sobre o nosso rock, que considero um dos melhores do mundo e traz clássicos como Raul Seixas, Lulu Santos, Rita Lee, Cazuza, Barão Vermelho. E o show traz um pouco disso. A gente varia. Tem um momento acústico e sentimos que o público está muito ligado no nosso rock novamente. Comemoramos 40 anos do rock brasileiro dos anos 80 com uma série de shows. E a turnê está sendo muito bem recebida.

Como foi elaborar esse repertório com grandes nomes do rock nacional e canções de sua carreira?

É diante do público que a gente sente a repercussão. Nós passamos por um período muito turbulento. Perdemos Gal Costa, Erasmo Carlos e Rita Lee em um curto período. Já tive momentos de homenagear Gal com “Divino Maravilhoso”. Já homenageei o Erasmo com “Eu sou terrível”, em que tive o privilégio de gravar com ele. As músicas que acabaram ficando são aquelas de Raul Seixas, Renato Russo, Cazuza e Rita Lee. E sempre fazemos alguma surpresa, com alguma música nova, além dos meus grandes sucessos e canções que as pessoas pedem, como “2X100”, e o último single, “Herói Made In Brazil”, um rock ‘n roll clássico e que vai muito bem no repertório e nos shows com tudo mundo cantando.

Inclusive este disco tem a versão de "A Cruz e a Espada", em parceria com Renato Russo, que se tornou histórica e é sempre lembrada. Você deve ter um carinho grande por esse registro. Como foi gravá-la com o Renato?

A gravação de “A cruz e a espada” com o Renato foi um dos momentos mais emocionantes da minha carreira. Eu tive a oportunidade de entrevistar o Renato e ele me entrevistou para uma edição da revista Bizz, em 1985. E neste dia ele me perguntou como eu compus ‘A cruz e a espada’, que ele adorava. Quando fui gravar o disco “Rock Popular Brasileiro” eu me lembrei deste fato e convidei o Renato para cantar comigo a música em um arranjo completamente diferente, com dois violões e um quarteto de cordas muito delicado, em que o Renato adorou e cantou com muita emoção. A canção foi primeiro lugar em todo o Brasil e ainda toca em todas as rádios, independente do estilo. Eu faço “A cruz e a espada” no show da forma clássica, com banda, mas eu sempre me lembro do Renato e ele sempre estará presente nos shows. No “Rock Popular” fazemos “Tempo Perdido”, que eu também gravei no álbum “Rock Popular Brasileiro” e sempre tem uma lembrança, uma emoção muito grande em tudo que se relaciona com o Renato.

Há alguns dias perdemos a cantora Rita Lee, uma das principais expoentes do rock brasileiro. O que representa para você a Rita Lee? Existe a possibilidade de alguma homenagem a ela em seu show?

Rita Lee provavelmente foi a pessoa mais importante para o rock brasileiro em todas as suas fases, desde Os Mutantes nos anos 60 até a época mais rock ‘n roll, com o Tutti Frutti nos anos 70 e sua explosão do pop rock nos anos 80. Ela deixou um legado sem precedentes não só na música, mas como Cazuza, com personalidade, sua atitude. Uma mulher revolucionária e guerreira. Padroeira da liberdade, como ela gostava de ser chamada. E é claro que a gente homenageia a Rita Lee, não só no álbum “Rock Popular Brasileiro”, em que cantei e gravei com João Barone [baterista dos Paralamas do Sucesso] e Rodrigo Santos, em uma versão bem rock ‘n roll de “Agora só falta você”. Mas no show a gente tem feito no set acústico o clássico “Ovelha Negra”, que emociona todo mundo.

Você fez parte do RPM, uma das maiores bandas do rock nacional, que mais vendeu álbuns na década de 80, com "Rádio Pirata Ao Vivo". Como você contextualiza este álbum na história do rock nacional e na música brasileira, sendo que você estava lá, dentro das composições e das gravações?

O álbum “Rádio Pirata ao vivo” é um fenômeno porque começou com o disco “Revoluções por minuto”, primeiro álbum do RPM, e logo de cara tivemos a sorte de poder ter Ney Matogrosso, o maior showman do Brasil, para dirigir o espetáculo. O show foi tão bem sucedido que a versão de “London London” (Caetano Veloso) que nós colocamos no repertório, sem nenhum plano de gravá-la, foi um sucesso tão grande que fomos obrigados a gravá-la devido à repercussão com o público. Foi uma magnífica obrigação gravar um álbum ao vivo tendo apenas um álbum de estúdio. Este ciclo todo marcou profundamente a história do rock nacional e, por conta disso, eu refiz esta turnê para homenagear os 35 anos do lançamento do disco. E quase a íntegra deste álbum eu mantenho nos meus shows.

Há alguns anos você retomou a carreira solo e deixou o RPM novamente. Como você formou sua nova banda? O que você poderia falar sobre os músicos que lhe acompanham atualmente? Eles estão conectados com o clássico rock brasileiro da década de 80? Quais contribuições eles trouxeram para sua música?

Esta pergunta é muito pertinente para esclarecer que não deixei o RPM de forma nenhuma. Nós tínhamos feito um álbum em 2011 chamado “Elektra” e partimos para uma turnê que ficou em cartaz durante seis anos. Em 2017 fizemos um álbum que todos nós consideramos muito pesado e que não tinha a cara do RPM e optamos por não lançá-lo, chamado “Deus Ex-Machina” e eu ponderei com a banda que deveríamos dar um tempo para reciclar, ouvir novas coisas e fazer outras composições para, então, nos reunirmos para outro trabalho e uma nova turnê. Acontece que eles não gostaram desta ideia e optaram por seguir sem mim. Infelizmente banda é assim. Começa com garotos que têm o sucesso do grupo como principal objetivo de vida naqueles vinte e poucos anos e depois as pessoas mudam e tomam outros rumos. Há muitos anos estou com um time incrível, com músicos jovens e, que além da turnê, vamos gravar um novo álbum.


Fonte: https://www.paranaeducativafm.pr.gov.br/Noticia/Nosso-rock-e-um-dos-melhores-do-mundo-diz-Paulo-Ricardo-que-faz-show-em-Curitiba