Paulo Ricardo me falou que tinha vetado um disco pronto do RPM, porque eram velhos se comportando como adolescentes.

Paulo Ricardo "O disco Elektra, lançado na quarta volta da banda, foi um equívoco por ser muito dançante".

(Por Jamari França)

Paulo Ricardo lança álbum solo em novo surto de estrelismo.
Tem um anúncio do Boticário com o Paulo Ricardo que ilustra bem sua carreira. Ele está numa van com seu nome escrito do lado de fora indo para um show, perto tem uma fila enorme que ele acha que é para comprar ingresso, mas é para comprar os produtos do anunciante e o local do show está vazio. 

Paulo parou o RPM várias vezes para tentar uma carreira solo. Nenhuma delas emplacou. Estive com ele no Projac no dia 20 de setembro, quando fui ajudar em comentários sobre o show dos Paralamas no Rock In Rio. 

Ele me falou que tinha vetado um disco pronto do RPM porque eram velhos se comportando como adolescentes. Em vez disso estava pronto um álbum solo e disco do RPM só ano que vem. Perguntei se ele ia embarcar de novo no lance romântico. Ele me disse que aquilo tinha sido um erro, que o disco novo é de rock, prometeu que naquele dia mesmo ia me mandar o link para escutar. Você mandou? Nem ele.

Paulo também me disse que o disco Elektra, lançado na quarta volta da banda, tinha sido um equívoco por ser muito dançante. Não me entusiasmou por causa disso mesmo e estava na expectativa de que o vetado Deus Ex Machina faria o RPM se renovar. 

Perguntei se a banda ia parar, ele disse que não porque essa coisa dos anos 80 não para (não coloco entre aspas porque não lembro as palavras exatas, mas o sentido é este). O RPM continua a fazer shows, pelo menos até sair o disco solo do Paulo. O que deduzi foi que ele mais uma vez quer tentar emplacar solo e quer deixar o RPM como uma banda saudosista, já que bloqueia a renovação de repertório.

Em 1989, a banda acabou porque estava corroída por contradições criadas pelo sucesso absurdo que teve com o primeiro disco e seus desdobramentos. Fizeram um disco ao vivo após lançar um único disco por falta de direcionamento, embarcaram numa egotrip sem limites para alegria da gravadora CBS, que tinha a política de sugar ao máximo os artistas novos e depois descartar o bagaço. 

Das reuniões seguintes, em 1993 a 1994, 2001 a 2003, 2008 só a atual, iniciada em 2011, rendeu um disco de carreira, falta continuidade na banda, sempre atropelada pela vontade de seu vocalista, indo e vindo quando quebra a cara.
Acho que rock é uma questão de banda. Uma unidade maior que suas partes, tanto que músicos egressos de bandas tem dificuldade de emplacar carreira solo. 

A banda é um corpo coeso, criativo em maior ou menor grau, que exige empenho e até renúncia das partes. Muitos músicos fazem discos solo com canções que não cabem nas bandas ou foram rejeitadas pelo consenso interno. 

Raramente superam o sucesso dos discos da banda. O dito maior vocalista de rock do mundo, Mick Jagger, é um bom exemplo. Nos anos 80, 90 e 00 lançou quatro álbuns solo, nenhum deles ficou entre os 10 mais na América, o que chegou mais perto foi Wandering Spirit (1993) em 11º lugar e também não emplacou em turnês solo.

Como Paulo Ricardo me disse que haverá disco novo do RPM ano que vem, parece que está mais prudente agora sobre este novo voo solo. A ver.