RPM "PROGRESSIVO É A MÃE"

"PROGRESSIVO É A MÃE!"

Entrevista ao RPM na Bizz 1985

Logo após ser lançado, o primeiro LP do RPM se tornou um dos maiores sucessos do ano. As críticas só elogiaram. "De acordo com dados não oficiais", como afirma o tecladista Luís Schiavon, vendeu sete mil cópias logo na primeira semana.

O disco é bem variado e tem excelente trabalho de produção. O tecladista diz que sua banda "é rica porque cada um teve uma experiência diferente".
O grupo usou bem estas diferenças, experimentando efeitos e utilizando ao máximo os recursos técnicos de gravação. Gravou bateria eletrônica no corredor do estúdio, para chegar ao som adequado; gravou guitarra com velocidade dobrada e até um quarteto de cordas, com violino, cello, baixo e viola sintetizados.
Sintetizador é uma coisa que Luís conhece. Além de treze anos de convivência com os teclados em conservatório, já tocou muito tecnopop. Até teve uma banda com Lucas Shirahata, a Solaris, que apenas uma vez colocou em palco seus onze sintetizadores.
O tecnopop e ainda o progressivo permeiam o LP, da dançante "Louras Geladas" à lenta e acústica "A Cruz e a Espada" (com veteranos como Roberto Sion na clarineta e o produtor do disco, Luiz Carlos Maluly, no violão). Mas o grupo rejeita com veemência certas qualificações: "Já estou cansado desta história. É progressivo o escambau! O progressivo não teria uma bateria como esta nunca. Há só uma sofisticação de arranjo comum ao progressivo", protesta Luíz.
"Também não somos tecnopop", prossegue ele. "Meu conceito de tecnopop é o de uma coisa absolutamente apoiada no uso de instrumentos eletrônicos. Mas nós temos oito faixas com baterias do Paulo Pagni, dez faixas com o baixo do Paulo Ricardo e guitarra em todas."
Um dos pressupostos do RPM, define seu tecladista, "é a experimentação. A gente se permite testar". E se na música funciona assim, os sons vem acompanhados das boas imagens criadas por Paulo Ricardo. Um ex-crítico de música, Paulo canta desde os sete anos e faz poesia desde os treze. Cansou de escrever sobre a música dos outros e, depois de uma viagem pela Europa, chamou Luís e fez o RPM. A estréia se deu em maio do ano passado, na abertura da apresentação do Ira! Na época o grupo era formado por Luís, Paulo Ricardo e Fernando Deluqui (conhecido de Luís quando os dois acompanhavam May East). Na bateria estava Júnior, com seus quinze anos.
Paulo Ricardo gosta de poesia, de imagens: "Gosto de chamar atenção sobre coisas que estão acontecendo quando acho que elas são úteis. Gosto de palavras não usuais, como álcool, provocante butterfly, paiol de bobagens, Moscou, Nova York, Tel Aviv. São imagens."
Trabalhando com estas imagens, o RPM saiu do primeiro show para um mergulho no circuito underground paulistano.
Mas em outubro de 84 as coisas começaram a mudar. A banda mandou uma fita para a CBS e concorreu por uma vaga na coletânea Rock Wave. Conseguiu. E, de quebra, ainda foi aprovada para gravar um compacto.
Com o disco na rua, a banda passou a tocar por todas as danceterias do Rio e São Paulo. "Louras Geladas" ia aparecendo nas FMs. O outro lado do compacto, "Revoluções por Minuto", tropeçou na Censura e teve execução pública proibida. A Censura alegou incitação ao uso de drogas pelos versos "Agora a China bebe Coca-Cola/ aqui na esquina cheiram cola".
Em fevereiro deste ano o grupo apareceu em sua formação atual. Júnior tinha saído antes mesmo do compacto, gravado com computador rítmico. Enquanto em seu lugar Paulo Pagni, que já tocou numa banda de jazz-rock e foi professor de bateria.
Após meses com a mesma formação e com um hit nacional, a banda já pôde reconhecer com clareza o estado atual do rock e sua posição frente a ele. "O Brasil está descobrindo o rock. É uma coisa naciona", considera Luís. "Existem grupos nacionais. O que há são estilos diferentes".
Paulo Ricardo emenda, classificando alguns estilos: "O Roger do Ultraje é um explícito debochado. Já o Renato Russo da Legião Urbana é um explícito sério. Eu sou implícito, lírico. Gosto de coisas dúbias, como "Louras Geladas".
O RPM se considera um grupo de palco e pretende fazer um música que agrade tanto aos ouvidos underground quanto aos ouvintes de FMs e freqüentadores de danceterias. "Queremos conciliar o popular e o sofisticado. A gente sempre fica na corda bamba. Entre o brega e o não vendável", argumenta Luís.
"Há um ano", completa ele, "iriam rir da nossa cara. Agente tem que ocupar espaço. Tenho um pouco de bode deste pessoal que se julga o melhor e não vai a luta".