Não basta uma guitarra e uma roupinha, tem que ter conteúdo’

Paulo Ricardo avalia crise do rock nacional: ‘não basta uma guitarra e uma roupinha, tem que ter conteúdo’
O jurado do Superstar disse que o rock não pode se dar ao luxo de falar qualquer bobagem como gêneros mais populares
No primeiro episódio do programa Superstar, Paulo Ricardo viu a tela não subir para algumas bandas, especialmente de rock. Ao ter que comentar o trabalho de uma delas, ele fez um desabafo que surpreendeu a apresentadora Fernanda Lima e disse que não estávamos vivendo um bom momento para o rock. Em entrevista ao RADIOBEAT, Paulo Ricardo explicou melhor o que quis dizer com isso:

A explicação para isso é complexa. O rock não pode se dar ao luxo de falar uma bobagem qualquer. Para ouvir uma bobagem qualquer existem gêneros mais populares que vão de encontro as pessoas mais populares, que gostam de ouvir aquilo e que cresceram ouvindo aquilo. O rock é um gênero importado, não podemos esquecer.  – disse Paulo Ricardo.
O vocalista do RPM lembrou também como é importante ouvir as letras de clássicos do rock nacional e reforçou que essa crise não acontece fora do país. Ao contrário. Paulo Ricardo acredita que é importante ouvir o que os ingleses e americanos estão fazendo e isso está bem mais fácil. Ele lembrou a época em que precisava que um primo trouxesse um disco lá de fora do país ou quando se reunia com os amigos para assistir a um show em um lugar de São Paulo, já que aquela banda não viria nunca ao país. Diferente do que acontece hoje, que várias bandas se apresentam no Brasil em festivais:

O rock nacional tem que competir com o rock lá de fora, aí é muito difícil. Tem que competir com o alto padrão da história do rock nacional como Rita, Raul, grandes letras dos anos 80. Aí você fala uma bobagem e a pessoa que gosta de rock e tem um senso crítico vai falar: “não tô acreditando!” Pra você ter o impacto, a força do rock, não basta uma guitarra, uma roupinha rock n roll, você tem que ter conteúdo. Isso não é fácil! – explicou Paulo Ricardo.

Outro fator importante é a falta de espaço para o gênero. Paulo Ricardo acredita que o programa Superstar está melhorando isso ao dar espaço  e visibilidade para novos talentos. Ele sente falta de rádios de rock em muitos lugares do Brasil, danceterias específicas e programas de TV, que nos anos 80 abriam espaço para o gênero:

- Não existe hoje uma cena. Esse esforço do Superstar conseguiu com a força da Globo colocar a banda Malta e, de certa forma, o Suricato na cena, nas paradas. Mas, não existe uma cena de pop rock como havia naquela época (anos 80). No Brasil inteiro existiam várias danceterias, as bandas se apresentavam, tinham vários programas de televisão que abriam espaço para o rock. Tenho falado isso porque é um momento particularmente crítico para o rock nacional. Malta é uma exceção e o programa faz um excelente trabalho nesse sentido de dar o espaço.  – disse Paulo Ricardo.

Paulo Ricardo é um dos técnicos do Superstar com Thiaguinho e Sandy. O programa vai ao ar todos os domingos, às 23h20, na TV Globo.