Cheiradas por Minuto, a verdadeira história das drogas e o fim do RPM.

Muito se fala sobre o RPM e o consumo de substâncias proibidas como causa que determinou o fim da banda, sem dúvida afetou a carreira do grupo. Mas não foi o grande motivo que marcou o fim da banda.


O RPM foi uma das bandas mais importantes da história do rock nacional, seu sucesso foi tão grande quanto sua queda retumbante. Nenhuma banda antes ou depois conseguiu alcançar o sucesso do grupo.

Veja a história no video a seguir:

A grande turnê do Rádio Pirata ao vivo levou a banda a abrir caminho para outros artistas nacionais, que viram que poderiam existir grandes shows dos artistas brasileiros.

Pela primeira vez, o RPM realizou grandes shows em estádios de futebol, contando com toda uma estrutura que acompanhou a banda em palcos por todo o país, na turnê realizada entre 1985 e 1986.

Com quase 5 milhões de cópias de um único álbum, ainda hoje é a banda recordista, mas com a fama vieram os excessos, o descontrole, os egos inflados e toda uma série de situações que levaram ao fim do grupo.

Com o sucesso o cache da banda aumentou. Em 1985 o produtor Manoel Poladian pagava a cada um dos integrantes 8 mil por mês, em fevereiro passaram a cobrar 15 mil por show. Em outubro cada um dos integrantes da banda ganhava 150 mil, era muito dinheiro para os jovens, que não tinham controle sobre seus ganhos, com isso vinham os excessos.

Alguns já estavam começando a perceber que isso poderia causar problemas. Em nota para a revista Bizz, o jornalista Emílio Rondeau escreveu:

“G
anhar muita grana em cima do sucesso inegável dos shows do RPM pode ser extremamente prejudicial para a banda que, até onde eu saiba, planejou uma carreira de longa duração.” E concluía, aconselhando: “Abre o olho, RPM.”

Os excessos foram de todos os tipos, no livro Dias de Luta, Paulo Pagni, baterista da banda, conta sobre o assédio das fãs.

“O que não faltava era mulher, e muita, sempre. Nem sei qual foi o recorde, porque eu estava sempre bem bêbado. Em Belo Horizonte, eu não aguentava mais, decidi ir dormir sozinho, estava cansado. No meio da noite, duas garotas foram até o quarto e... Não teve jeito.

Mas não rolava muito grupal — pelo menos que eu me lembre. Quando rolava, era, geralmente, dois de nós, nunca a banda toda, e muitas garotas. Normalmente, eu fazia sozinho. Eu e mais duas.”

Da mesma forma, tudo piorou quando a cocaína entrou na banda. Os efeitos do pó geraram problemas de convivência, havia muita pó ao redor dos integrantes do grupo.

Segundo Paulo Ricardo “Escrevíamos RPM com o pó e cheirávamos o ‘RPM

“Se ensaiássemos durante a noite, quem chegasse ao estúdio pela manhã faria a festa, porque só com as nossas sobras, nossa sujeira…

Era pó que não acabava mais. Deixávamos uma prancheta com quatro taturanazinhas, permanentemente. Um dia, me dei ao trabalho de cronometrar os intervalos entre uma cheirada e outra. Deu três minutos e meio.”

Se fôssemos dar uma entrevista em uma rádio, primeiro íamos os quatro para o banheiro, cheirávamos muito. Entrava o programa, não conseguíamos nem falar, brigávamos no ar, ao vivo.” Seja pelo sucesso, seja pela arrogância, o RPM (especialmente sua dupla de frente, Paulo e Luiz) angariou rapidamente a antipatia geral.

Os excessos e o uso de drogas chegaram a um ponto que tornou a situação incontrolável. Se somarmos os egos inflados de todos os integrantes, a convivência ficou muito difícil, principalmente entre os líderes da banda, Paulo Ricardo e Luiz Schiavon.

Para piorar a situação, durante o ano de 1986 Paulo Ricardo acabou preso pela Polícia Federal, na manhã do dia 23 de outubro por porte de maconha, no mesmo dia o RPM faria um show para 50 mil pessoas em Londrina.

Essa situação de excessos levou a banda a tomar decisões erradas, o que afetou o futuro do RPM. No final de 1986, a banda disse ao produtor que queria rescindir o contrato, pois queria assumir o controle da própria carreira.

Obviamente este foi um erro fatal, visto que Poladian havia sido um grande produtor e talvez um dos grandes responsáveis ​​pelo sucesso do RPM, mesmo a banda tendo um grande potencial, a estrutura que Manoel Poladian lhe deu foi fundamental para o grupo.

Todos concordam que com a chegada Do pó, tudo começou a desmoronar na vida do RPM.

Muito se fala sobre o RPM e o consumo de substâncias proibidas como causa que determinou o fim da banda, sem dúvida afetou a carreira do grupo. Mas não foi o grande motivo que marcou o fim da banda.

Diferenças internas, relacionamento totalmente desgastado entre os integrantes, divergências musicais, mudanças de participação no repertório e lucros da banda, acabaram com o RPM.

A banda poderia ter terminado em 1987, o álbum Quatro Coiotes estendeu a agonia, e o que na época alguns atribuíram a responsabilidade a Luiz Schiavon por ter querido gravar um disco sozinho, foi apenas uma desculpa para acabar. A banda teria terminado da mesma maneira.

Outro fato que mostra que o consumo de drogas não foi o grande responsável pelo fim ocorreu nas sucessivas turnês que a banda fez em 2001 e em 2011, as mesmas diferenças musicais levaram mais uma vez ao fim do grupo.