Paulo Ricardo "Quando eu era universitário, usava uma estrelinha vermelha do PT, isso foi em 1982"



Por Françoise Terzian

Com uma aparência enxuta e jeitão mais leve, divertido e também reflexivo, o roqueiro transmite felicidade ao falar da pequena trupe que tem em casa e do novo álbum, que trará 10 faixas e sairá pela Universal. Embora esteja trabalhando bastante em cima do novo projeto, além dos shows do RPM, o cantor cita que agora tem mais tempo para curtir as crianças, diferentemente do que foi com sua primogênita, hoje com 28 anos. “Eu fazia shows no final de semana e ela estudava durante a semana. Era como aquele trecho da música [Pais e Filhos] da Legião Urbana, que diz ‘eu moro com a minha mãe, mas meu pai vem me visitar’”, recorda.

Hoje, ele vive com a família em São Paulo e se prepara para cair na estrada novamente em 2016, por conta do lançamento de seu novo álbum. Isso, no entanto, não tira seu sono. Paulo Ricardo era um dos convidados mais animados do jantar que a companhia aérea British Airways promoveu na segunda-feira, em São Paulo, para comemorar seus 30 anos de Brasil. Falar da capital londrina, aliás, traz fortes recordações ao roqueiro. Após morar em Londres por um período, ele cantou, “meio que para encher linguiça”, uma música mais lenta, chamada London, London, em um show de 1986. O fato mais curioso dessa história é que a canção composta por Caetano Veloso durante seu exílio explodiu no Brasil na voz de Paulo Ricardo. Foi um caso genuíno de sucesso de uma música que sequer foi gravada oficialmente num disco. Foi assim que, semanas mais tarde, a gravadora se movimentou e lançou o álbum Rádio Pirata ao Vivo, o maior da história da banda e também um dos maiores sucessos da indústria fonográfica brasileira, com mais de 3,5 milhões de cópias vendidas. Por curiosidade: o show teve ainda direção de Ney Matogrosso.

Abaixo, os principais trechos de Paulo Ricardo com a Billboard Brasil:

Como anda o negócio da música no Brasil, diante de tantas mudanças tecnológicas?

O negócio da música é muito caótico, cheio de subjetividades e armadilhas. As discussões de agora giram em torno do streaming e dos direitos autorais, com Roberto Carlos de um lado e Lobão do outro. A música no Brasil é um negócio complicado, mas também apaixonante. Eu continuo acordando de madrugada para escrever ideias, compor.

Apesar dos muitos obstáculos, ainda dá para ganhar dinheiro com música?
Você ainda não consegue fazer download ilegal de um show. O que me preocupa são os letristas, que vão muito mal. E temos grandes letristas como Aldir Blanc, que é genial, simplesmente um puta letrista, que fez coisas históricas com João Bosco. O campo para os letristas vai mal.

Quais seus próximos passos como cantor?
Ah, eu vou começar do zero com o novo disco solo que lanço dia 26 de fevereiro, no Tom Brasil e, pela primeira vez, sem brigar com o RPM [risos]. Vai se chamar Novo Álbum, terá 10 faixas e o meu filho Luis Eduardo, de um ano e meio, na capa [enquanto mostra no celular a foto do menino que combina traços dele com os da esposa]. Curto meus filhos intensamente. Eles são a coisa mais milagrosa da vida. Estou renascendo.

Quais suas bandas favoritas?
Favoritas e para sempre são os Beatles, Rolling Stones e Led Zeppelin.

Você gosta de política, participa, levanta alguma bandeira?
Eu acho que a história só faz sentido quando você tem uma perspectiva de 50 anos, como eu tenho agora, aos 53. Já passei por nove moedas, nasci na Ditadura. Acho que estamos vivendo o trauma da cura do jeitinho brasileiro. Essa malandragem que assistimos ao longo da história do Brasil é charmosa, mas muito perigosa. Está mais do que claro que não se faz negócios com jeitinho, com malandragem. A potência Brasil precisa deixar esses elementos para trás. É preciso buscar a honestidade sem deixar espaço para a flexibilidade. Estamos no centro de um acontecimento doloroso que, espero, traga resultados positivos para a nação.

Qual sua posição em relação ao impeachment? Você é favorável ou contrário?

Eu acho que o impeachment já deveria ter acontecido. Ele só não aconteceu, como ocorreu na época do Fernando Collor, por conta de todas essas alianças políticas. Se um gestor não administra bem, não é competente para isso, ele não deve permanecer assim como ocorre em qualquer empresa privada. Ela [Dilma Rousseff] não tem condições. Sim, sou a favor do impeachment.

Você chegou a ser eleitor do PT?

Claro que sim. Quando eu era universitário, usava uma estrelinha vermelha do PT. Mas isso foi em 1982. Dê poder a um homem e você saberá quem ele é.