Musicalmente, o RPM sempre mesclou muito bem o peso do rock com a melodia do pop

O som do RPM é atemporal

Se hoje o Brasil tem um cenário rock and roll forte e bem estabelecido, uma banda teve muita participação nesse processo, criando os alicerces para que isso acontecesse. 
Em entrevista exclusiva ao Cwb Live, o vocalista e baixista do RPM, Paulo Ricardo, fala sobre a trajetória da banda, e as mudanças no mundo musical nessas três décadas de estrada.

Formado no começo dos anos 1980, o RPM foi o primeiro grupo a fazer realmente sucesso, comercialmente, no país. Algumas canções da banda, como “Rádio Pirata” e “Olhar 43”, estão entre as mais tocadas na história da radiofonia brasileira até hoje.

Seu primeiro disco, “Revoluções por minuto”, lançado em 1985, é um dos mais importantes da história da música nacional, pois vai muito além da qualidade musical. Como as gravadoras ainda não acreditavam que o rock pudesse emplacar no país, ele abriu as portas para inúmeras bandas que buscavam o seu espaço. O segundo trabalho do grupo, “Rádio Pirata Ao Vivo”, foi lançado em 1986. Gravado no Pavilhão de Exposições do Anhembi, em São Paulo, e dirigido pelo cantor Ney Matogrosso, o álbum vendeu, até hoje, perto de 3 milhões de cópias.

“Temos um estilo próprio”


Musicalmente, o RPM sempre mesclou muito bem o peso do rock com a melodia do pop. Manter esse equilíbrio talvez seja um dos grandes desafios que a banda continua enfrentando. “Nós fazemos o que gostamos. Temos marcas próprias, estilo próprio, uma maneira de compor e tocar que são particulares. Valorizamos muito isso”, afirma Paulo.

Se a personalidade do grupo se manteve intacta durante essas três décadas, o mundo musical teve mudanças drásticas. Muitos estilos e bandas surgiram e desapareceram com a mesma velocidade. Segundo Paulo, o RPM sempre esteve atento a esse cenário.  “É claro que ninguém aqui é surdo. Temos ouvido de tudo na cena do pop rock desses anos todos, mas filtramos isso com a nossa maneira de fazer música”, explica.

Apesar das diferenças em relação aos anos 1980, Paulo acredita que a força do rock nacional continua viva, com boas bandas surgindo constantemente. “Mais do que um gênero musical, o rock é uma atitude, um estilo de vida. Em todo o mundo se fala a sua linguagem universal. A música brasileira é muito rica e o rock é apenas uma de suas facetas, mas com uma enorme capacidade de adaptação. Rock’n’roll can never die!”, afirma.


O RPM está trabalhando em um novo disco, ainda não tem data de lançamento. 


Os novos tempos


 A diferença entre a tecnologia dos anos 1980 e a facilidade com que é possível gravar um CD, atualmente, é enorme. As bandas mais antigas, assim como as gravadoras e o próprio público, foram obrigadas a se adequarem a essa nova realidade. “Na verdade, a tecnologia só veio para ajudar. Acho que hoje até é mais fácil fazer e divulgar a música. Houve um tremendo avanço tecnológico que nos ajuda a ganhar tempo e gravar de modo mais rápido e confortável. Incorporamos isso no dia a dia da banda, mas a essência do método de trabalho é exatamente a mesma dos anos 80”, explica Paulo.


Mas, se a tecnologia avançou de uma forma assustadora, a quantidade de bandas concorrendo por um mísero espaço nas rádios, TVs e internet também aumentou. “A informação está muito pulverizada. Hoje há mais informação e muito mais concorrência com o rock lá de fora. Mas não basta ter as ferramentas, é preciso saber usá-las”, analisa.


 O respeito dos fãs


Mesmo se adequando aos novos rumos da tecnologia e da música, um dos principais motivos que mantiveram o grupo na ativa foi o fato de o público da banda ter se renovado. Além dos fãs que os acompanham desde o início da carreira, muita gente mais jovem vem conhecendo e gostando do trabalho do quarteto. Seria o som do RPM atemporal? “Acredito que sim. Temos visto nosso público antigo em nossos shows, mas também os jovens têm vindo com grande força. O som do RPM é o som do RPM, não teve mudanças”, analisa Paulo.

Em 30 anos de carreira, a banda sobreviveu ao sucesso meteórico, passou pelas consequências que isso traz a qualquer artista e enfrentou separações e voltas, desavenças e reconciliações. O status do RPM, hoje, é compatível com a história que a banda construiu e com o fato do grupo ter sido uns dos alicerces do rock tupiniquim. “É uma grande conquista, com tantos anos de carreira, constatar que somos percebidos como o ‘classic rock’ brasileiro e que conseguimos criar uma tradição de grandes espetáculos, grandes produções. Sempre haverá espaço para quem fizer rock de qualidade”, finaliza Paulo.